terça-feira, 8 de setembro de 2009




PEDRAS COLONIZADAS

Lascas secas e seculares
guardas na mente das tuas ruas,
paredes, praias, pisos,
as vozes das raízes da terra incauta,
os versos duros das carruagens,
os lamentos agrilhoados d´além-mar
o sopro da arrogância na ferida
salgada e pisoteada
pelos cascos imperiais.

Na memória branca e loura
dos teus sulcos, marcados
pela nobres alcovas,
pelas coroadas cocheiras,
pelas dores indígenas e escravas,
ouvi o gemido dos amantes.
E comi o brilho feitor e frívolo
nas bocas fétidas e nevoentas
nas mesas frias e sudorentas.

Na memória negra e rubra
das tuas fraturas
perdi no tronco da agonia
minhas peles de senzala e banzo.
E na raça dos caciques
morri tantas vezes
preso na cruz de aço
da tua catequese.

JORGE CAMPOS

Jorge Campos é poeta, contista, compositor e artista plástico. Lançou os livros de poesia: Ilhas (2001) e O Pássaro latino-americano (2002). Recebeu menção honrosa no X Concurso nacional de poesia Menotti del Picchia (2004). Integra com dois contos a antologia 15 Contistas da Amazônia(2006). Como compositor/letrista, tem por parceiros, Sérgio Leite, Alcyr Guimarães, Paulo André Barata, entre outros. Participou com poesias e canções do Cd/Dvd Samba de artista que reune autores e intérpretes da terra. Com Sérgio Leite venceu em 2006 o 1° Festival da canção de Icoaraci, e o prêmio de melhor arranjo, e em 2007, ganhou o terceiro lugar no 9° ServFest. Em agosto de 2008, foi um dos vencedores, único do Pará, do 1º Prêmio literário Canon de poesia 2008.